Bromélias e o combate à dengue: de vilã a heroína
Em tempos de COVID-19, não se fala em outro assunto a não ser pandemias, epidemias, surtos e colapsos. E no meio disso tudo, ás vezes esquecemos de uma velha conhecida de todos nós brasileiros: a dengue. Números divulgados pelo Ministério da Saúde neste início de ano mostram que, no mês de janeiro, houve um aumento de 20% no número de casos aqui no Brasil!
É comum que, ao se falar de dengue e sua proliferação nos espaços externos urbanos, nos venha logo a mente as lindas bromélias, muito utilizadas em projetos de paisagismo. Mas será que estamos certos ao fazer essa associação? Fizemos essa matéria com o objetivo de desmistificar essa ideia de que bromélias são prejudiciais no combate à doença da dengue e convencer você de que é possível sim incluir essa vegetação no seu jardim.
Existem três diferentes tipos de bromélias: epífitas, que crescem em troncos de árvores; rupícolas, que crescem em rochas e paredões rochosos e as terrestres. Suas raízes, quando presentes, possuem principalmente o papel de prover suporte a planta, e não tanto a extração de nutrientes dos solos. Portanto grande parte das espécies obtêm nutrientes provenientes do tanque formado por suas folhas. Nesse tanque ficam retidos a água, compostos orgânicos, compostos inorgânicos, folhas e animais mortos provenientes do ambiente. Este ambiente rico em umidade e em nutrientes pode então se transformar em um nicho ideal para a moradia de variados animais vertebrados, invertebrados e microrganismos. Portanto sim! Diversos insetos habitam esses tanques das bromélias, inclusive mosquitos. É a partir disso que cometemos o erro de correlacionar a dengue com as bromélias.
Existem muitos estudos sobre a proliferação do gênero Aedes em plantas da família Bromeliaceae, como um do Instituto Oswaldo Cruz, que analisou plantas em locais de interface entre o ambiente urbano e silvestre. O estudo concluiu que as bromélias não possuem um papel importante na proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor do vírus da dengue.
“Apenas 0,07% e 0,18% de um total de 2.816 formas imaturas de mosquitos coletadas nas bromélias durante o período de um ano correspondiam ao Aedes aegypt e Aedes albopictus” Marcio Mocelin, biólogo.
Outra importante pesquisadora na área, a também bióloga Lucia Regina Cangussu da Silva, depois de analisar estudos feitos por décadas aqui no Brasil, conclui que o número de larvas de mosquitos do gênero Aedes encontradas em uma dada bromélia é muito pequeno e que elas não são focos significativos de produção desses mosquitos. Logo, não devem ser incluídas como alvo das estratégias de combate à dengue.O que explica esses resultados são alguns fatores importantes sobre o mosquito e a planta que não costumamos levar em consideração ao prejulgar essa relação.
Em seu ambiente natural, os tanques das bromélias não são locais propícios para o desenvolvimento das larvas e das pupas do Aedes aegypti. O estabelecimento das larvas e das formas mais jovens do mosquito da dengue nos tanques das bromélias não é tão simples, uma vez que elas precisam competir com insetos mais adaptados àquele ambiente para se instalarem ali - e nisso entra a escolha e composição adequada de vegetação em um projeto paisagístico. Além disso, essa água que se acumula entre as folhas, rica em matéria orgânica em decomposição, não é um ambiente propício para que o mosquito da dengue deposite seus ovos.
Outro grande equívoco é achar que a água presente nos tanques é uma água parada. Como as bromélias são seres vivos, e portanto funcionam como um ecossistema, essa água do tanque é envolvida por uma série de interações químicas e biológicas, além de envolver ainda outros animais como passarinho, insetos e pequenas pererecas. Há uma vida muito rica em torno da planta. Mas lembre-se! Isso só é possível se a planta estiver viva. Portanto fique sempre atento à remoção das bromélias mortas do jardim!
Além do próprio ecossistema que é formado em cada bromélia, elas são essenciais se quisermos trazer, de forma mais rica, a tropicalidade das nossas florestas para compor um projeto paisagístico. Essa é uma tendência, que foi inaugurada pelo paisagista brasileiro Roberto Burle Marx, e que nós do Grupo Le Nôtre recomendamos! Além desses conjuntos com plantas tropicais, elas podem ser usadas como forração em arranjos, em contornos de canteiros e gramados, fixadas em rochas, esculturas, construções, árvores, tocos e vasos. E o melhor: além dos diferentes modos que podemos dispô-las, temos ainda uma grande quantidade de espécies, fruto da nossa rica flora. Portanto, não temos motivos para banir essa planta linda de nossos projetos e espaços urbanos!
Mas se mesmo assim você ainda ficou em dúvida, quer cultivar bromélias no seu jardim mas garantir que não terá a proliferação de nenhum inseto por ali, existe uma solução!
Para bromélias localizadas em ambientes exclusivamente urbanos (ex. interior de apartamentos, jardins de praças, condomínios e outros estabelecimentos), sugere-se dissolver uma colher de sopa de água sanitária (hipoclorito de sódio) em um litro de água e colocar esta solução no tanque das plantas semanalmente. Esse método não prejudica as bromélias e ainda elimina a criação de mosquitos, matando também as larvas já existentes nas plantas. Agora, cabe a nós darmos mais vida a nossos jardins com essa encantadora espécie!
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